E lá se vai 2020. Junto com ele se foram muitas vidas, muitas histórias e muitos sonhos; histórias vividas sozinhas ou compartilhadas, sonhos sonhados a um, a dois, a muitos. Além disso se vão, também, concepções: das coisas, de mundo, do outro e de nós mesmos. Nem com toda a generosidade do mundo é possível ver um lado bom em tudo isso; na verdade, falar em “lado bom” não é nem uma utopia ou uma falta de compromisso com a realidade, mas sim uma falta de sensibilidade, ou de empatia.

Porém, tanto como sociedade quanto como indivíduos, podemos sim falar em “lado útil”. O lado ruim de ter vivenciado, e ainda estar vivenciando, tudo isso, não é difícil de distinguir; mas qual é o “lado útil” desse contexto tão inédito? Individualmente, as respostas para essa pergunta podem variar bastante, mas algumas delas provavelmente se repetirão, por estarem relacionadas a vivências tão comuns.

Fazer um piquenique, tomar um banho de mar, reunir-se em aniversários, trocar beijos e abraços e estar junto em momentos difíceis, como despedidas (estas que marcaram esse ano), eram atividades simples, e aparentemente tão banais para a maioria das pessoas que nunca ninguém cogitou a impossibilidade de fazê-las… Até que “da noite para o dia”, de uma maneira tão abrupta, como é a vida, como é o que foge ao nosso controle, não era mais possível fazer nada disso sem correr sérios riscos, e sem colocar outras pessoas em risco. Se fosse um roteiro de um filme soaria como uma ficção científica. De repente nos confrontamos, como espécie, com a nossa impotência, com a nossa vulnerabilidade, diante da natureza e de seres tão microscópicos. Não foi a primeira e nem será a última oportunidade que temos para “baixarmos a bola” e vermos que não podemos lidar com o mundo e com cada ser vivo à nossa volta como se fossemos deuses.

Quando menos esperamos, nos tornamos reféns: de um organismo tão menos desenvolvido que nós, e de nós mesmos. Reféns presos em nossas casas, em nossas novas limitações objetivas e subjetivas; presos em espaços que pareceram por vezes nos sufocar. Sob essas condições nos sentimos mais solitários do que nunca, rompemos relações, chegamos aos limites de outras a ponto de a convivência tornar-se insuportável… Inclusive a convivência com si próprio, algo incrivelmente incomum em um mundo contemporâneo onde tornou-se natural viver “anestesiado”, sem entrar em contato com desconfortos ou conflitos internos, ou seja, sem entrar em contato com nós mesmos. “O que não mata, fortalece”, dizem por aí. Pois bem, quem SOUBE tornar-se mais forte também soube se reinventar, ou se (re)encontrar. Como uma fênix, também houve quem morreu e renasceu, quem perdeu tanto de si que parece que está recomeçando do zero, ou quem contará os aniversários não só pela idade cronológica, mas pelos anos que se passarão desde a sobrevivência à COVID-19 como doença, objetivamente, ou como fase da vida.

Que a sensação quase mágica dos reencontros, e dos retornos a determinadas atividades, predomine, e passemos a “dar mais valor às pequenas coisas”, palavras estas tão clichês até o início deste ano. Que também tenhamos em mente que não temos o controle das coisas como acreditamos ter, e que a vida é ainda mais imprevisível do que imaginávamos. Que possamos internalizar esses fatos que condicionam a nossa existência, seja para darmos mais valor ao que temos de aparentemente elementar (respirar, enxergar, ter saúde, ser dono de si, ser amado por outras pessoas, ter comida e um teto e condições mínimas para lutar pelo que deseja…), seja para nos tornarmos mais humildes e, consequentemente, mais espertos e resilientes diante do que pode nos ocorrer, tanto individualmente quanto socialmente e como espécie humana. 

Por mais forte que cada um de nós possamos ser, não precisamos lidar sozinhos com o que se passa conosco emocionalmente. Por mais íntimos e sombrios que possam ser nossos conflitos (a ponto de serem para nós mesmos), não precisamos e nem devemos não evitar o contato com eles por medo, por vergonha, ou seja pelo que for. Neste ano a psicoterapia esteve presente nas vidas de muitas pessoas, pois a pandemia também foi um problema de SAÚDE MENTAL, considerando todas as suas repercussões obstantes à doença em si. 

Na Clínica da ponte estamos à disposição, tanto online quanto presencialmente, para te ajudarmos, ou quem você ama, a atravessar esse e todo e qualquer momento de adversidade. Com todo o afeto e profissionalismo, nos juntamos aos nossos pacientes em suas jornadas. Precisa de uma força? Sabe de alguém que precisa? Estamos aqui, entre em contato e venha conhecer nossa equipe e nosso trabalho.

Clara Werneck

Psicóloga - CRP: 05/48863

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