Por vezes o mundo perde o colorido, o cinza se expande e nos alcança e nos tornamos cinza, pó na verdade, algo dispensável, que não serve para nada, que tem uma existência sem sentido. Ao redor, outros seres coabitam esse mundo mas não fazem parte do meu mundo, desse lugar sombrio e deserto.

Não venham mais me chamar para ir a praia ou ao cinema, meu desejo era poder simplesmente levantar e seguir em frente mas a dor de existir me impede, me paralisa, sou prisioneiro de mim mesmo. Sinto-me um fracasso. Não podem me compreender, nem eu mesmo me compreendo.
Não posso usar a palavra, porque se o fizer serei o louco, aquele que não deu certo. Descobriram minha farsa, na verdade sou pó. Não sei o que quero ser, não sei quem sou. O que conheço é a dor.

Esse desabafo poderia ser de qualquer um, do melhor jogador, daquele que sofre bullying, do popular na escola, do tímido, do rico, do pobre, … A depressão é democrática, pode alcançar qualquer um.

Existem sinais que podem servir de alerta para podemos ajudar aquele que está mergulhado nesse sofrimento: mudança marcante de personalidade ou nos hábitos; comportamento ansioso, agitado ou deprimido; afastamento dos amigos e da família; perda de interesse nas atividades que gostava de fazer; descuido com a aparência; perda ou ganho de peso inusitado; mudança no seu padrão do sono; comentários autodepreciativos persistentes; comentários negativos em relação ao futuro; comentários sobre a morte; doação de pertences que valoriza; postagens nas redes sociais que revelam baixa autoestima; comportamentos autodestrutivos e entre outros a DESESPERANÇA.

O que fazer se percebemos alguns desses sinais muito presentes em alguém? É preciso escutar, dar atenção, se mostrar presente, acolher, dar suporte olhando nos olhos daquele que sofre. Falar sobre ideias suicidas não provoca o desejo de suicidar mas pode impedir uma tentativa de suicídio. Procurem alguém para compartilhar a preocupação, alguém que possa ajudar, aconselhar, se aproximar.

Existem momentos em que parece que estamos num túnel, sem alternativas de fuga, só há uma saída desse lugar escuro mas as janelas e portas estão lá, só não conseguimos enxergar. A maioria das pessoas que tentam o suicídio, não desejam morrer de fato, desejam exterminar o sofrimento.
É preciso, com urgência, semear a ideia de que não precisamos ser felizes o tempo todo. Facebook não é real, é um culto a felicidade. Não precisamos ser felizes e bem sucedidos o tempo inteiro, precisamos viver! A felicidade são momentos especiais e a escuridão muitas vezes se faz necessária para percebermos a luz.

Depressão tem tratamento, psiquiátrico e psicológico. O estigma em torno de qualquer distúrbio psíquico precisa ser atacado de frente. Um transtorno mental é como uma doença cardíaca, quando nos sentimos mal procuramos ajuda especializada.

Não há nada de errado, ninguém é menos por isso. No mundo há milhares de pessoas que sofrem de depressão e fazem a diferença no mundo. Não precisamos ser felizes o tempo todo para fazer a diferença, não precisamos ser famosos, precisamos simplesmente “ser “, porque cada um de nós é único.

Sejamos empáticos, nos coloquemos no lugar do outro, do diferente, do esquisito, do tímido, ele pode estar em grande sofrimento. Nos coloquemos no lugar daquele que é o melhor em tudo, que precisa ser o melhor em tudo, ele pode estar em grande sofrimento.

Não precisamos desse ideal impositivo da felicidade, precisamos ser capazes de viver a vida em sua plenitude, com suas dores e alegrias.

Marcia Pires Ribeiro Dias

Psicóloga - CRP: 05/57073

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