O que era uma indicação e um pedido, acabou por se tornar uma necessidade, uma ordem. Por motivos de forças externas, às pessoas ao redor do mundo estão passando por uma provação, em especial para os países de cultura latina, como o Brasil, um povo cordial, sofre bastante. Ficar em casa para se proteger e evitar aumentar a curva de contagio ao COVID-19.

A cultura dos países latinos nos torna uma sociedade cordial, mas o que isso significa? O conceito (O Homem Cordial) é trabalhado pelo historiador Sergio Buarque de Holanda e fala sobre as características do brasileiro, onde as relações familiares possuem tamanha força, e temos por impulso, projetá-las em outras relações. E assim, especificidades brasileiras como a necessidade de intimidade, a facilidade de se comunicar de forma tátil, a hospitalidade e a generosidade tendem a acontecer com frequência.

E, obviamente, isso implica em proximidade social. Estar junto, conviver e compartilhar. A falta de todas essas atividades e interações podem afetar de forma negativa aqueles que estão não acostumados. As pessoas se sentem solitárias, esquecidas. Unindo esses sentimentos com todas as informações e projeções negativas para o futuro podem causas questões psicológicas sérias, como a ansiedade e a depressão, que felizmente, cada vez mais ganham atenção para seus cuidados.

Definindo melhor os conceitos, a solidão teria uma conotação mais negativa. Estar só. Se sentir rejeitado. Não se sentir sendo visto ou compreendido. E essa sensação pode acontecer mesmo quando estamos rodeados de pessoas, e não sentimos fazer parte, não pertencendo ao ambiente ou ao grupo, ou seja, não é um sentimento que ocorre somente em isolamento físico. A solidão nos força a entrar em contato com nós mesmos e, sem distrações externas, somos obrigados a prestar atenção em nossas emoções e pensamentos, sejam bons ou ruins. E isso pode assustar.

Já a solitude pode ser entendida como o oposto. Sua própria companhia basta. Você se percebe e se entende e, acima de tudo, você gosta da própria companhia. A necessidade de estar perto de pessoas que te enxergam, te entendem e te amam ainda existe e sempre irá existir. Isto é inato do humano. Mas o que deixa de acontecer é a busca desesperada por atenção externa que tome a prioridade que deveria ser de nós mesmos nos enxergar, entender e amar. É conhecer os motivos para suas emoções e pensamentos bons e ruins e para não se assustar com isso.

No momento atual, onde somos obrigados a encarar de frente nossos medos, nossas inseguranças e ter que efetivamente lidar com elas, é mais do que necessário, praticarmos a solitude. Vou aproveitar esse espaço para também “puxar a sardinha” para a profissão da Psicologia, cujo papel, é mediar, facilitar o contato com os nossos sentimentos e pensamentos, desde os mais superficiais até os mais profundos, dando subsídios para que passemos por situações, como as que estamos vivendo, de forma a termos mais controle, sobre de como as informações externas irão nos afetar. Aproveite esse intervalo, que nos foi imposto, para aprender a se conhecer cada vez melhor e então conseguir ser um amigo de si mesmo.

Pedro Diniz Bernardo

Psicólogo - CRP: 05/48864

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