Aprender é um verbo tão presente em nossas vidas. Aprendemos desde sempre com as vivências que experienciamos, com as relações que construímos… A criança aprende desde o nascimento, conforme vai experimentando sensações, toques, emoções…

O verbo aprender assume uma potência em nossas vidas que, muitas vezes, não precisamos conceder a ele um objeto, um complemento; uma vez que se diz “eu aprendi” já é possível compreender que está adquirido algum conhecimento, alguma habilidade.

Rubem Alves nos disse: “Eu quero desaprender para aprender de novo. Raspar as tintas com que me pintaram. Desencaixotar emoções, recuperar sentidos”. E é divagando acerca do significado do verbo aprender e sobre como, certas vezes, é necessário despirmo-nos do que já aprendemos para aprender o novo que é possível traçar o caminho do psicopedagogo. O trabalho do psicopedagogo é recheado de “desaprendizados” para novos aprendizados, pois, quando nos deparamos com o outro, precisamos transpor a nossa alma, como forma de compreensão e afeto, na busca, no entendimento de como aquele sujeito aprende, quais são as potencialidades que cada um possui e que precisam ser desenvolvidas. E como esse processo é um ciclo de aprender e “desaprender”!

A psicopedagogia nasce em um território também de conflitos, pois surge, muitas vezes, do que alguns considerariam como o fracasso do aprendizado, mas que, na verdade, é um processo de se desaprender para aprender de novo. Cada ser é único e possui a sua forma de aprender. Alguns precisam enxergar para compreender, outros necessitam da audição, enquanto alguns aprendem através das sensações. Temos muitos sentidos e podemos aprender a usá-los ao nosso favor. Aí consiste o trabalho do psicopedagogo: um trabalho investigativo acerca de todo o processo de aprender e, ao mesmo tempo, tão mágico, em que vai se descobrindo o quanto pode e deve ser prazeroso colocar esse verbo “aprender” em prática.

É dessa forma que o trabalho da psicopedagogia está centrado não na dificuldade, mas em como superá-la através das potencialidades que cada indivíduo aprendente possui. A psicopedagogia opera no caminho percorrido pelo sujeito aprendente, servindo a ele, auxiliando-o na ultrapassagem dos obstáculos, no embelezamento desse trajeto, trazendo o encantamento contido no verbo aprender e demonstrando como a aprendizagem pode lhe garantir asas para voar para onde desejar.

Assim, a psicopedagogia deve desenvolver seu trabalho de forma pautada na metacognição, desenvolvendo a consciência do ato cognitivo a fim de conduzir o sujeito ao automonitoramento do ato de aprender, favorecendo seu próprio conhecimento acerca de seus processos cognitivos e transformando-os na habilidade de monitorá-los e organizá-los para a realização de seus objetivos, desenvolvendo autoconfiança e autonomia.

Para isso, a psicopedagogia utiliza-se de ferramentas lúdicas, trazendo luz ao processo de aprendizagem através de brincadeiras, jogos e utilizando-se das aptidões e interesses do sujeito aprendente a fim de se romper os obstáculos à aprendizagem e resgatar o amor pelo aprender. E como esse processo é recheado de encantamentos para o indivíduo que aprende e para aquele que “desaprende” para auxiliar o outro nessa jornada.

Que todos nós, psicopedagogos, possamos “desaprender”, raspando todas as tintas com que nos pintaram, desencaixotando as nossas emoções para que consigamos recuperar os nossos sentidos e auxiliar o outro nesse processo. Que essa caminhada seja sempre repleta de olhinhos que brilham ao descobrir o prazer que está no verbo aprender.

Juliana Decieri

Psicopedagoga

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